Acarajé? Não, falafel, o pai do quitute mais conhecido da culinária soteropolitana

De origem árabe, possivelmente criado no Egito, o bolinho de grão-de-bico ou fava moídos acompanhou o expansionismo islâmico por todo o território africano, chegando até à região do Golfo da Guiné, onde a hegemonia do Islã se manteve do séc. VII até o séc. XIX.

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Mundo Islâmico

4/19/20241 min ler

Nem dá para imaginar que, com origens tão diferentes, o faláfel e o acarajé têm um parentesco. Os dois bolinhos são feitos com leguminosas — a base do primeiro é fava ou grão-de-bico e a do segundo,feijão-fradinho. Quase irmãos. De casquinha crocante e interior macio, ambos douram em óleo quente.

De origem árabe, possivelmente criado no Egito, o bolinho de grão-de-bico ou fava moídos acompanhou o expansionismo islâmico por todo o território africano, chegando até à região do Golfo da Guiné, onde a hegemonia do Islã se manteve do séc. VII até o séc. XIX.

Ali o falafel ingressou na culinária de algumas etnias, a começar pela dos iorubás. Com o ingrediente básico já trocado pelo feijão fradinho, passou a ser chamado de "akkrá". No Brasil, o bolinho chegou com o imenso contingente de iorubás escravizados, sendo batizado de acará ou acarajé (acará, bola de fogo; jé, comer), com função sagrada no candomblé.

Há pelo menos três séculos as baianas do acarajé trabalham em suas receitas, que foram trazidas da África durante o período colonial. Foram as chamadas escravas de ganho, cuja função era ir para rua e trabalhar para as patroas, vendendo mercadorias em tabuleiros, que iniciaram a prática. Elas vendiam de tudo, de mingaus, a peixes fritos, de acarajés a bolos e quitutes, como a cocada.

Embora tivessem que repassar uma grande parte do lucro para suas proprietárias, as escravas de ganho podiam ficar com um pouco do que recebiam. E foi assim que muitas delas sustentaram suas famílias – e houve até casos de mulheres que conseguiram comprar a própria liberdade.